Líder espiritual por mais de uma década, o primeiro papa latino-americano da história foi símbolo de humildade, justiça social e diálogo global.
Cidade do Vaticano – O Papa Francisco, 88, faleceu na madrugada desta segunda-feira, no Vaticano, após complicações de saúde que se agravaram nos últimos meses. Ele foi o 266º pontífice da Igreja Católica e o primeiro papa vindo da América Latina. Seu papado, iniciado em 2013, marcou uma virada histórica no tom e na direção da Santa Sé, aproximando a Igreja dos marginalizados e promovendo uma mensagem global de união.
Nascido Jorge Mario Bergoglio, em Buenos Aires, Francisco ficou conhecido por sua humildade e por romper protocolos em favor de uma Igreja mais próxima do povo. Sua morte abre o período conhecido como Sé Vacante, que antecede o conclave — reunião dos cardeais que elegerá o novo líder católico.
Uma década de pontificado e pontes
Ao longo de seus mais de 10 anos de papado, Francisco surpreendeu ao escolher viver na modesta Casa Santa Marta em vez do Palácio Apostólico, lavar os pés de presidiários em rituais da Quinta-feira Santa, e promover uma abordagem mais pastoral do que doutrinária para questões como a homossexualidade, o divórcio e a comunhão.
Foi também um ferrenho defensor do meio ambiente, autor da encíclica Laudato Si', e um crítico severo do consumismo e das desigualdades sociais. Durante crises globais, como a pandemia da Covid-19 e a guerra na Ucrânia, Francisco apelou por paz, solidariedade e cuidados com os mais frágeis.
“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e pela comodidade de se agarrar às próprias seguranças.”
— Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013)
Cronologia do pontificado de Francisco
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13 de março de 2013 – Eleito Papa no segundo dia de conclave.
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2015 – Publica a Laudato Si’, encíclica sobre a crise climática.
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2016 – Celebra o Jubileu da Misericórdia.
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2019 – Visita os Emirados Árabes Unidos, num marco do diálogo inter-religioso.
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2020 – Enfrenta a pandemia e celebra missa solitária na Praça São Pedro vazia.
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2023 – Celebra 10 anos de papado com aprovação recorde entre fiéis.
Reações internacionais
A morte de Francisco gerou comoção mundial. Líderes políticos, religiosos e sociais prestaram homenagens ao papa que, segundo muitos, "quebrou barreiras e abriu portas".
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Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil:
“Um pastor do povo, da periferia, que levou o Evangelho às realidades mais duras do mundo.”
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António Guterres, secretário-geral da ONU:
“Francisco foi um gigante moral de nosso tempo, um defensor incansável da paz e da dignidade humana.”
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Joe Biden, presidente dos EUA e católico praticante:
“Um homem de profunda fé e coragem, que nos ensinou a liderar com o coração.”
O caminho até o próximo papa
Com a morte de Francisco, a Igreja entra no processo de sucessão. O conclave — reunião dos cardeais com direito a voto — deverá ocorrer nas próximas semanas, a portas fechadas, na Capela Sistina. Enquanto isso, o camerlengo (administrador temporário do Vaticano) assume funções protocolares até a eleição do novo papa.
Especialistas afirmam que a escolha do sucessor será um reflexo do legado de Francisco: a busca por uma Igreja mais aberta, dialogal e sensível às dores do mundo moderno.


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